Um Filme Pode Impactar de Várias Maneiras. Mas é Preciso Saber Fazer e Exibir.
Por A. Nakamura
Artigos | 07 de Abril de 2022
Hoje em dia nunca utilizamos tanto o vídeo e imagens em movimento em geral (GIFs; animações; fotos vivas etc) para nos expressarmos, tanto artística quanto profissionalmente. Câmeras fotográficas que filmam rivalizam com as de cinema, e são muitas vezes utilizadas (e preferidas) até para produções grandes, dadas não só à qualidade, mas à facilidade de manuseio e leveza do equipamento. Os celulares vêm com câmeras cada vez mais poderosas nos possibilitando desenvolver e exercitar nossa criatividade de uma maneira que não era possível anos atrás. Hoje em dia, temos (quase) um mini estúdio audiovisual em nossos bolsos – basta apenas retirá-lo e dar o clique ou apertar o botão para fabricar imagens. Aplicativos nos ajudam a dar forma e acabamento tanto em vídeos quanto em fotos, e tornam a expressão ainda mais poderosa. Além disso, na hora de exibir e/ou mostrar o que fizemos, monitores sofisticados e com luminância potente nos permitem enxergar os detalhes e a qualidade geral de uma maneira única.
Não vamos entrar no mérito de textura de imagens ou quantidade de pixels, porque isto não vem ao caso. “Hoje em dia”, diz o diretor Guilherme de Almeida Prado (de A Dama do Cine Shanghai e Onde Andará Dulce Veiga?), “as imagens meio que se confundem, já que a qualidade é altíssima e os fabricantes trabalham basicamente da mesma forma; onde começa uma qualidade de imagem e termina a falta dela já praticamente nem existe. Quase todos os celulares, câmeras e filmadoras já gravam em resolução 4K (algumas até mais do que isso, chegando ao 8K), portanto, tudo vai depender do que e, como, você, como profissional, vai querer se expressar”, diz. E aí entramos na seara desta postagem – ter um super equipamento à nossa disposição mas não saber usá-lo ou explorá-lo devidamente é o grande desafio. Do contrário, corremos o risco de ficarmos mais ou menos como na foto que ilustra esta matéria: uma imagem de extrema qualidade exibida em uma tela defasada e/ou antiga. Ou, em outras palavras, será que estamos sabendo utilizar toda esta tecnologia a nosso favor, especialmente quando se trata de trabalho?
Não há dúvida que a utilização do vídeo é uma das ferramentas mais eficientes na hora de uma empresa, marca ou serviço se comunicar – e isso vem sendo usado por vários profissionais em diversas plataformas, não apenas no Instagram, onde a procura é maior. O impacto de um produto audiovisual, quando bem-feito, pode aumentar e dar uma visibilidade incrível para um negócio. “E o mais legal”, afirma a produtora Janaina Zambotti, “com técnicas do cinema que antes eram restritas apenas a profissionais que tinham muito dinheiro. Hoje já sabemos que se pode produzir conteúdo de qualidade sem necessariamente torrar fortunas no orçamento”, diz Janaina. “Até a publicidade precisou se transformar e se adaptar a este novo padrão, que, pelo visto, veio para ficar. Muitas agências e/ou produtoras fazem uso de celulares, e o modo como estão realizando seus produtos audiovisuais se adaptam a este formato”, diz Janaina. “É uma revolução quase tão grande quanto o surgimento dos filmes em 16mm, lá atrás, na Primeira Guerra Mundial”, completa Guilherme.
“A publicidade sempre roubou (o termo é esse mesmo) ideias vindas do cinema”, continua, “basta ver a enormidade de comerciais imitando técnicas do cinema, conceitos de filmes e/ou parâmetros baseados neles. E a internet, com seu tempo diferente dos 30 segundos da televisão, por exemplo, possibilitou que agências e produtoras criassem conteúdo midiático com um tempo maior e um aprofundamento antes inexistente na publicidade tradicional (vide algumas publicidades para o YouTube, por exemplo, que às vezes ultrapassam os 3 minutos).” Com isso, muda-se também a forma como se faz e como se consome um produto audiovisual. “Eles ficaram mais sofisticados”, diz Janaina. Isto, em si, já é um exemplo de saber utilizar um produto audiovisual para se chegar até sua audiência, não importa onde ela esteja – se na tela do cinema, da TV ou mesmo em um aplicativo como o YouTube. “Cada mídia vai ter sua linguagem própria”, continua Janaina. “O Instagram possibilitou o surgimento dos vídeos curtos, com até 15 segundos, que muitas marcas utilizam, ou querem utilizar, pois sabem da eficiência de comunicação desta ferramenta. E aí o próprio YouTube copiou, com os chamados Shorts (que vão mais ou menos na mesma linha).”
Tudo isso, é claro, faz parte da experiência que queremos passar. “Algumas câmeras”, explica Henrique Oliveira, fotógrafo free lancer e diretor de fotografia que já fez alguns trabalhos para a Sincronia, “como as chamadas câmeras de ação (as GoPros, por exemplo, com suas lentes grandes angulares) conseguem imprimir um tom épico às imagens que muitas vezes o vídeo mais simples – de uma viagem; de um churrasco em família – torna-se um trabalho verdadeiramente excitante”, explica. “Às vezes nem queremos dar essa intenção, mas o próprio aparelho/equipamento já vem com essas características técnicas (as lentes ajudam nesta impressão). Resta a você, se está ou não fazendo um trabalho profissional, perceber como irá utilizar aquele material – se para mostrar aos amigos/familiares, ou se vai colocar em um portfolio (e aqui uma dica: mesmo o tal churrasco em família pode às vezes até servir de currículo, dependendo de como foi feito”, brinca Henrique).
A linguagem também é algo importante e faz parte de todo o conjunto. “Se você quer dar uma aparência mais limpa, clean mesmo (que muitas vezes é a linguagem da publicidade), ao seu trabalho, às vezes é necessário realizá-lo em estúdio, com luz controlada”, afirma Danilo Apoena, fotógrafo de moda que realizou os stills de divulgação para o curta Amarar (2008). “Desta forma, você não apenas registra exatamente aquilo que deseja, como, se precisar refazer alguma coisa, as condições serão mais fáceis para isso – diferente, por exemplo, se estiver em uma locação, sem controle do tempo e da luz.” Até mesmo câmeras menos sofisticadas fazem parte de uma linguagem. “Deveria ser proibido citar o exemplo de filmes como o do Dogma (movimento do cinema nórdico que seguia determinadas regras diferentes daquelas dos filmes feitos em estúdio. Algumas destas regras eram a gravação com luz natural, atores semi-amadores, não-uso de música, entre outros), mas é inescapável”, continua Henrique. “A estética meio suja, a câmera na mão, quase enlouquecida, deram o tom exato para as fitas do movimento – e influenciaram meio mundo. Até mesmo no Brasil houve diretores que foram tocados por estes trabalhos, como o filme do Roberto Moreira, Contra Todos (2004, foto abaixo), que tinha a mesma pegada.”
Tudo isso são conceitos, estéticas e formatos que vão estruturar o seu trabalho. E fornecer o impacto final que vai: emocionar o seu público (no caso de um filme para o cinema); ajudar na decisão de compra e/ou consumo (um filme para a publicidade); fazer as pessoas enxergarem um negócio/marca/empresa de uma outra forma (como no caso dos filmes corporativos/institucionais), e revelar a maneira como você, profissional, trabalha, ou você, marca/negócio, se comporta no mercado. Nestas horas, andar de mãos dadas, e usufruir do que cada parte tecnológica pode oferecer, é fundamental e extremamente necessário compreender.
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A. Nakamura é produtor de linha na Sincronia Filmes.