Sincronia e Babaorum São a Junção Perfeita de Duas Empresas
por Aloisio Raulino
Artigos | 12 de Dezembro de 2022
A joint venture não é muito comum neste mercado – geralmente produtoras contratam e/ou fazem parcerias com agências de terceiros para a execução de campanhas, marketing digital e afins. Mas o casamento foi perfeito. Não apenas porque a Sincronia e a Babaorum são criação de uma mesma pessoa (o diretor Emanuel Mendes), e, portanto, dispostas em um mesmo modus operandi em relação a absolutamente tudo, mas sobretudo e exatamente por isso conseguem um alinhamento de pensamento em relação a propostas de valor, filosofia e preceitos morais e de princípios que só poderia mesmo convergir para um resultado satisfatório. Além disso, obter o controle sobre todas as etapas do trabalho foi o que certamente estava na mente e no coração de Emanuel quando resolveu incorporar a Babaorum – que é uma empresa afiliada à Sincronia –, algo geralmente mais difícil e complicado quando se envolve profissionais os mais diversos, principalmente nesta área.
Surgida de uma necessidade obviamente comercial (sei muito bem que a grande paixão de Emanuel é o cinema, área à qual ele pretende se dedicar cada vez mais, apesar das dificuldades inerentes ao meio), mas ao mesmo tempo também criativa, exercitando com mais liberdade os músculos da inventividade em campanhas envolvendo de maneira principal filmes estilo comercial de TV, a Babaorum apareceu originalmente em 2015, elaborando as campanhas para uma startup chamada Belugaria (que infelizmente acabou não indo adiante), dedicada ao segmento de moda customizável. Ainda naquele ano o marketing digital tal como o conhecemos hoje em dia, mais agressivo, de certa forma sofisticado e cheio de táticas e técnicas para se chamar a atenção do consumidor e/ou potencial cliente, ainda caminhava a passos lentos, adaptando-se a uma nova realidade que vinha devagar transformando o terreno por onde pisam agências, produtoras, marketeiros, produtores de conteúdo e afins. Todos estes sabiam que o mercado – extremamente volátil a uma velocidade comparável à da luz – já não era mais o mesmo daquele de duas décadas atrás, quando a publicidade, especialmente a publicidade audiovisual (a que mais encanta e atinge diretamente o consumidor) não dependia única e exclusivamente da televisão. Até porque o público havia migrado, da tela da TV, para as outras reinantes, para as telas da internet – como as do tablet, do computador e do celular. Era preciso criar uma empresa voltada a esse nicho bastante promissor e voraz.
Assim como Emanuel criou a Sincronia inspirando-se em duas outras empresas/produtoras as quais admirava – a distribuidora americana de Home Video Criterion Collection e o estúdio United Artists, fundado por Chaplin, D. W. Griffith, Mary Pickford e Douglas Fairbanks, ambas com a veia do domínio e controle sobre todos os aspectos de produção, além da independência criativa –, a Babaorum também foi idealizada seguindo o mesmo caminho. O nome, a propósito, deriva de uma outra paixão de Emanuel: os quadrinhos de Asterix, personagens criados pelos franceses René Goscinny e Albert Uderzo que povoaram a infância e adolescência do diretor. Nas histórias, Babaorum é um dos acampamentos fortificados romanos que cercam a aldeia dos gauleses – e durante certo tempo o próprio Emanuel chegou a fazer esboços sobre o que seria o logo da agência, uma ilustração misturando um típico publicitário de camisa e gravata colorida segurando uma lança e um escudo mais tarde abandonada para ceder lugar à letra B estilizada que ilustra essa matéria (segundo Emanuel me contou, o publicitário armado significaria que a agência funcionaria como uma empresa de guerrilha, fugindo ao padrão certinho e arrumado da maioria das empresas do setor).
E igualmente como a Sincronia, administrada por Emanuel e a produtora Janaina Zambotti – com a participação de colaboradores externos que trabalham em conjunto aos dois sócios –, também a Babaorum reúne um time de profissionais das mais variadas áreas (fotógrafos; marketeiros; designers; publicitários; jornalistas e diretores de arte) espalhados pelos quatro cantos do Brasil que servem tanto à Sincronia, formando um núcleo criativo alinhado e em uníssono com as propostas disruptivas de ambas as empresas, quanto aos clientes para os quais eles elaboram as campanhas, sejam elas audiovisuais ou simplesmente textuais e voltadas ao marketing digital. Este mundo ideal se divide mais ou menos assim: a Babaorum cria as campanhas, o conceito, as artes e as identidades de acordo às necessidades de cada cliente, e a Sincronia se ocupa com a realização de filmes publicitários, quando é o caso. Ao fazer isso, fecham um ciclo de inventividade e inovação sem precisar firmar parcerias às vezes complicadas, frequentemente questionáveis e na maioria laboriosas e não-recompensadoras.
Da mesma maneira, de nada adiantaria uma agência de publicidade e marketing digital com uma vibe mais disruptiva se não houvesse as pessoas por trás dessa ideia ajudando a concretizá-la. Por conta disso, tanto Emanuel quanto Janaina escolheriam a dedo os profissionais com os quais trabalhariam nos anos seguintes – a exemplo daqueles que colaboram para a produtora e ajudam a manter essa vibração independente. Que o diga Milena Sardoz, jovem publicitária e jornalista responsável pela elaboração de algumas das campanhas mais recentes das duas companhias, como as da Baby Care e as do Grupo Essence – uma profissional atenta e antenada com os mais importantes conceitos desse meio. Trabalhando em cima do branded content e da proposta de valor de cada uma das marcas e/ou empresas para as quais idealiza suas criações, Milena pincela em detalhes as principais características e preceitos morais destas marcas, e redige roteiros e argumentos baseados nos dados levantados em cima deles. Com isso, faz saltar aos olhos de quem os assiste e/ou os acompanha tudo aquilo que a marca na verdade vende, seja ele o cuidado, a atenção e o carinho, no caso da Baby Care, seja a procura pelo bem-estar, a saúde de qualidade e o equlíbrio emocional que uma empresa como o Grupo Essence tanto apregoa em seus mais de 20 anos de estrada. Junte-se a isso a competência de diretores, fotógrafos, músicos e editores que compõem o casting criativo da Sincronia e a receita é uma perfeita união de duas empresas falando a mesma língua neste mercado na maior parte do tempo revirado às avessas. Controle e domínio maior, no bom sentido, não poderia haver.
Outro ponto interessante destas colaborações frutíferas é o fato de que estes mesmos profissionais acabam invariavelmente puxando ou indicando mais alguns na mesma pegada – como me disse, em tom despojado, Richard Assumpção, designer e criador de conteúdo para marketing digital e redes sociais que firmou parceria com a Babaorum e a Sincronia ainda neste mês de dezembro, nestes fins de 2022. Este ex-fotógrafo aderiu ao time e à filosofia de trabalho de ambas as empresas via mais outros contatos igualmente independentes, criativos e desvinculados dos vícios de outrora, alguns até com a mesma pegada empreendedora e capacidade de idealização as quais tanto encantam Emanuel – a diretora comercial Deborah Santana, que aliás também envereda para a produção de alguns projetos dentro da própria Sincronia, como o institucional para a empresária e educadora Maria Aparecida das Neves (fundadora do Grupo Essence) e a entrevista realizada com o sound designer Marcelo Oliveira. Que também está conectado ao time via a De Pieri Comunicação, uma agência de áudio e locução para publicidade e setor empresarial fundada e administrada por Sonia De Pieri, parceira, ora vejam só, da Sincronia e Babaorum para estas áreas unindo áudio e vídeo. Richard Assumpção assume a partir de agora algumas criações para redes sociais voltadas a empresas e marcas para as quais a Sincronia e a Babaorum estão acabando de fechar negócio, enquanto Deborah elabora os contatos comerciais trazendo novos clientes e parceiros para esta roda de criatividade e invenção que este universo tanto precisa.
E se isso não é o bastante, ainda há outros fatores importantes acrescentando diferenciais a este trabalho. Como bem me confidenciou Emanuel há algum tempo (e reforçado no institucional de 10 anos da produtora, publicado no YouTube), a pegada da Sincronia – e agora da Babaorum – sempre foi a da renovação de ares em um mercado viciado e absolutamente de portas fechadas, seja para quem está começando seja para quem não possui os devidos QIs tão comuns neste meio. Desde o início de suas atividades, a filosofia da produtora foi a da oportunidade: para novos talentos; para quem está começando; para quem está se erguendo (ou mesmo se reerguendo); para quem deseja contribuir em sua respectiva área e, melhor ainda, modificá-la, transformá-la, tanto mental quanto fisicamente, se isso for possível (alguns negócios chegam mesmo a modificar o cenário e/ou local no qual estão inseridos). Em outras palavras: pensar e, principalmente, agir diferente.
Dito isto, foi assim que as duas empresas vêm procurando identificar os pontos fracos, as ingerências, os lugares-comuns e a passividade de marcas, empresas, negócios ou cabeças estacionados em modelos de operação ainda jurássicos e pouco claros em relação ao pulsante mercado da inovação e do empreendedorismo disruptivos. Não é tarefa fácil. Diversas vezes esbarram em um dos maiores entraves à modificação destes negócios: justamente o pessoal dos departamentos de marketing. Às vezes estes mesmos profissionais estão presos em uma bolha de mentalidade padrão e é difícil fazê-los contornar para enxergar o outro lado. Ou, o que com frequência acontece: nem são eles os responsáveis pelo engessamento da empresa, mas sim os próprios donos ou fundadores, incapazes de olhar adiante. Ironicamente, para a Sincronia, isso acabou acontecendo quando trabalharam com uma outra agência terceirizada. Não foram poucos os momentos de tensão e desgosto na elaboração das peças – um dos motivos, Emanuel me confidenciaria, pelos quais eles prometeram não mais trabalhar com agências terceirizadas.
No entanto, um dos exemplos desta disrupção veio agora – ao fecharem contrato com o Núcleo de Saúde Daniela Ferraz, um pequeno centro odontológico pretendendo oferecer uma gama de serviços os mais variados para pessoas que desejam não só um bom tratamento dentário mas também tudo o que eventualmente venha e esteja relacionado à saúde completa, como harmonização facial, implantes e apliques, tratamento de pele e outros. Identificada pela sagaz Milena Sardoz, a proposta de valor do Núcleo precisou ser reelaborada a fim de que ocorressem dois fatores importantes: a harmonização do feed de notícias no Instagram de Daniela – que, segundo Milena, estava meio em desordem, sem um conceito específico –, e a utilização dos meios multimídia e audiovisuais, fundamentais para uma maior exposição e visibilidade da empresa/marca. O próprio institucional que entrevista Daniela e seu sócio, o doutor Murilo Manfredini, já acende os destaques que formam o Núcleo de Saúde e seus princípios. Outros virão – inclusive a elaboração de peças publicitárias em filme estilo comercial de TV para se dar uma outra cara ao negócio e tentar diferenciá-lo do da maioria.
Com isso, a Sincronia e a Babaorum dão continuidade a esta maneira peculiar de se trabalhar – com este fato inédito no meio, onde uma mesma pessoa é o dono/fundador de ambas –, mas ao mesmo tempo extremamente gratificante. A realização não só profissional, mas também pessoal, tanto de Emanuel quanto da equipe que dele cerca, espelha a competência e a conformidade para se realizar não apenas um ótimo trabalho, mas fundamentalmente, um trabalho no qual se acredita e se gosta. Muito se sabe que neste meio em particular os profissionais, de ambos os lados, aliás, acabam eventualmente trabalhando apenas pelo trabalho em si, sem muitas vezes a quebra dos padrões necessária ao deslanche dos negócios.
Com esta transformação pela qual o mercado vem passando, a migração de um comportamento do público-consumidor, há muito criado por um determinado meio, para outro ainda se adaptando aos novos formatos, novas ideias, novos conceitos e novas direções, a junção de mentes criativas de duas áreas que conversam entre si canalizando para um ideal em comum é a renovação de ares de que este mercado tanto precisa.
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Aloisio Raulino é jornalista aposentado, entusiasta das artes e amante da boa mesa. Escreve com regularidade para este site.