They Cry For You!

Webssérie Os Chorões Expõe Tabus com Humor

 

Você já imaginou uma situação onde, ao perceber um problema muito sério diante de você, ou alguém lhe contar sobre uma catástrofe iminente ou qualquer acidente de grandes proporções e graves consequências, você começasse inadvertida e desavergonhadamente a chorar em frente à pessoa que está te contando? Ou ainda, diante de uma circunstância ou mazela que você considera humilhante, ultrajante, que de alguma forma fere seus princípios mais básicos – quantas coisas assim você consegue enumerar? –, você repentinamente desabasse em lágrimas sem o menor pudor? Visualize um momento no qual alguém ao seu lado, conversando ao telefone, ouvindo uma notícia terrível ou triste pelo rádio ou assistindo pela TV, virasse para você vertendo lágrimas de emoção? Constrangedor? Patético? Comovente? Ou apenas a necessidade de exprimir com franqueza aquilo que todos nós temos vergonha de exibir publicamente?

Pois foi pensando assim que nasceu a ideia de Os Chorões – uma microssérie feita exclusivamente para a internet mexendo com um tema que, para algumas pessoas, chega a ser até mesmo um tabu: chorar. E pior ainda: chorar publicamente. “Tive essa ideia num rompante, assim de repente, pensando nas diversas mazelas e situações revoltantes que vemos todos os dias, e que realmente nos dão vontade de chorar”, diz o diretor Emanuel Mendes. “Contei para o Chico Costabile, meu sócio na produtora, que prontamente se interessou em produzir algo assim.” “O processo para a feitura e produção da série foi relativamente rápido e simples, e em questão de duas semanas já tínhamos os roteiros prontos. O mais interessante é que todas as histórias, de uma maneira ou de outra, foram baseadas em situações reais. O primeiro episódio, do Machado de Assis, por exemplo, aconteceu daquele jeito. Portanto, neste caso, é pra rir e chorar ao mesmo tempo”, complementa Costabile.

 

 

A intenção inicial era produzir uma série de esquetes rápidos, de até um minuto, ou um minuto e meio cada, bem-humorados, divertidos, mas também constrangedores, que incomodassem quem os estaria assistindo – porque afinal, quem não fica incomodado diante de uma outra pessoa chorando, mesmo que seja próxima a você? “Pensamos inicialmente em filmá-los ao estilo cinemá veritè, ou seja, com câmera na mão, talvez até em preto e branco, numa pegada meio Curb Your Enthusiasm (a famosa série de TV estrelada por Larry David sensação nos EUA por apresentar um humor ferino, sarcástico, mordaz, e que no Brasil se chamou Segura A Onda)”, diz Anthayr Nakamura, um dos coordenadores do projeto ao lado dos diretores, e responsável pelas redes sociais da Sincronia Filmes. “Mas, é claro, como em todo trabalho dessa natureza, muita coisa muda – e o mais legal é que todas elas foram se transformando para melhor. Por exemplo, não vimos mais a necessidade de tudo ser em preto e branco, até porque as cores sobressaltaram no resultado final”, diz Nakamura. “A não ser pelo último episódio, Dando Sopa Para o Azar, que os meninos acharam melhor deixar em P&B, e ainda inserir umas cartelas de texto bem-humoradas complementando o visual. Ficou estiloso, com uma pegada meio Jim Jarmusch”, complementa. Os Chorões, aliás, foi todo rodado com a câmera 5D da Canon, com fotografia do velho amigo da gangue Mauricio Franco.

“Para que o humor funcionasse, para que as situações embaraçosas tivessem esse punch de cunho até social, era preciso que o timing de comédia funcionasse extremamente bem, com uma piada atrás da outra, um texto engraçado complementando o outro imediatamente anterior, porque o texto, em uma série como essa, principalmente por ser direcionada à internet, era o mais importante. E a ideia era dar um tapa na cara das pessoas que assistem – que podem rir ou não da situação –, e tirá-las da indiferença e do conformismo perante os vários problemas que vêem todos os dias diante de si, mas que não os chocam mais. Resumindo: se você não se escandaliza mais diante das coisas, se as mazelas já não te atingem mais, se você não se espanta nem chora diante delas, os chorões fazem isso para você”, diz André Campos Mesquita, um dos roteiristas da série. “E não poderia haver tempo para as pessoas que estão assistindo respirarem. Mesmo que o humor não seja tão pastelão como todo mundo está acostumado a ver na rede, essa ideia do texto sarcástico e da velocidade da comédia precisava ser mantida intacta”, completa André.

 

 

Para isso, os produtores sabiam que não poderia haver erro na escalação do elenco. “Fomos buscar na fonte mais confiável para nós – em todo o elenco do filme É Quase Verdade”, conta a produtora Bianka Saccoman. “Infelizmente alguns deles não estavam disponíveis, mas isso não impediu que eles nos indicassem amigos e/ou colegas de profissão, que foram extremamente valiosos”, completa Bianka. “Temos o Lucio Marques, que causou uma impressão muito grande no papel de Cabeça de Fósforo, personagem de É Quase Verdade. E com ele vieram outros, como Mario Morhle, Sonia Maria Silva, além de Chico Caprario, Erikah Barbin, que trouxe à bordo Cristian Mazzetti. Todos são atores oriundos do teatro, da TV e do conteúdo audiovisual para a internet, o que facilitou bastante as coisas para nós”, diz Anthayr Nakamura.

Com situações e encenação que falam sobre o cotidiano das pessoas – os episódios iniciais versam sobre educação, política, cultura, manias e vícios –, Os Chorões é uma microssérie trágico-cômica, cínica, irônica, para fazer as pessoas pensarem, para fazê-las chacoalharem a pasmaceira da vida ao seu redor. “Elas estão rindo dos chorões – pessoas meio patéticas, com choros ora engraçados, ora ridículos, ora tristes, ora trágico-cômicos ou exagerados –, mas na verdade estão rindo de si próprias”, finaliza Nakamura.