Do You Know Transmedia?

Conceito de Multiplataforma Vem Ganhando Espaço no Audiovisual

 

Da Redação

Artigos | 23 de Maio de 2014

 

Longe de ser um conceito aparentemente novo ou, muito menos, um modismo passageiro, o termo Transmídia (que geralmente vem acompanhado de palavras como narrativa, storytelling e/ou multiplataformas) data já dos anos 1970, quando alguns artistas pioneiros da chamada Arte Telemática (um conceito que utiliza o computador e sua interação com o homem e o que ele produz em termos artísticos) realizaram experimentos com narração coletiva, misturando os ancestrais dos networks de hoje e produzindo tanto visões quanto teorias críticas do que se tornaria o transmídia. Com o advento da internet nos anos 1990, diversos criadores começaram a explorar novas maneiras de se contar uma história e entreter as plateias utilizando outras plataformas. Muitos dos exemplos pioneiros desse novo modelo de contar histórias podem ser encontrados nos games de realidade alterada (ARG, no inglês), que aconteciam em tempo real juntamente de seu público. O próprio termo ARG foi cunhado ainda em 2001 para descrever especificamente o The Beast, uma campanha de marketing usada no filme A.I. Inteligência Artificial, na qual tanto um computador interagia e conversava com as pessoas no website da produção quanto um jogo onde o espectador/jogador seguia pistas para se resolver um mistério passado em 2045, o ano da história do filme.

 

Não entendeu nada? Funciona assim: você formata seu projeto, com narrativa mais personagens e insere tudo em um contexto digital, com aplicativos ligados à história, canal no YouTube, games, interação com Facebook, Twitter e outras plataformas. Em outras palavras: você cria um projeto – seja ele um filme, um programa ou série de TV – e ele será exibido e divulgado não só no formato para o qual foi concebido (a tela do cinema, a televisão da sua casa), mas também via jogos interativos ligados ao universo dele, hashtags em redes sociais como um todo, aplicativos para celulares, entre outros. Nós, da Sincronia, tomamos contato com todo esse universo fascinante nas inúmeras palestras apresentadas no último Rio Content Market – essa é uma tendência que vem acontecendo no mundo todo e foi absolutamente intrigante e curioso poder entrar em contato com diversos de seus difusores. “É preciso estarmos antenados com tudo isso, porque sem dúvida pretendemos inserir nossos próximos projetos em todo esse caldeirão”, diz a produtora Bianka Saccoman.

 

De um ponto de vista puramente de produção, o Transmídia envolve a criação de conteúdo que visa prender a audiência utilizando várias das técnicas hoje disponíveis neste mercado excitante do entretenimento. Ele ajuda a permear a vida cotidiana dessas pessoas de uma maneira lúdica, interessante. É o compartilhamento de informações – informações essas que têm tudo a ver com esse ou aquele projeto que você está divulgando. Em outras palavras: as pessoas não só vão assistir ao filme, à série de TV, ao programa de culinária favorito, mas também vão baixar o aplicativo relacionado a eles, vão comprar o roteiro, ter acesso ao conteúdo exclusivo (entrevistas, matérias promocionais, making ofs), jogar o jogo, interagir com as páginas do Facebook, as hashtags e muitas outras coisas. “O céu é o limite”, brinca Bianka.

 

E o mais importante (e curioso): essas diversas plataformas não apenas irão conversar entre si, mas também estar completamente sincronizadas umas com as outras. “Viu só porque decidimos dar esse nome para a produtora?”, ri A. Nakamura, produtor executivo e gerente de produção da Sincronia. Até agora, os grandes estúdios de Hollywood e mesmo as produtoras independentes (no Brasil e no mundo) vêm abraçando a causa sem meias medidas, sempre em busca de novas maneiras de se contar uma história, apresentar personagens, interagir com seu público.

 

                                                                                   A macedônia Aneta Lesnikovska

 

Muita gente teve medo do boom da internet na década passada – o de que ela (a internet) iria matar o cinema, a indústria da música (“Bem, de uma certa forma matou mesmo”, diz Nakamura), dos games etc, mas o que tem havido, pelo menos até agora, é o fato de a net estar não apenas auxiliando o acesso a esse universo, facilitando mesmo seu uso, mas também interagindo com ele. Evidentemente, é um processo longo e complicado, até que as coisas se acomodem, até que todas essas mídias conversem entre si. “Veja só você, estão falando na volta do Vinil – o Vinil”, diz Nakamura, “que muita gente dava como morto e enterrado.”

 

E toda essa tecnologia que muda constantemente a cada dia permite que os projetos incluam experiências como a do jogador/espectador único, ao contrário daquela onde havia vários deles – como é o caso dos reality games. Até um dos gurus da escrita narrativa, o americano Robert McKee (autor do Story), argumenta que o back story (uma série de eventos criados para uma trama principal) é uma perda de tempo, mas outro autor, o renomado Simon Pont, rebate exemplificando o filme Prometeus, teoricamente uma história anterior ao Alien – O Oitavo Passageiro, e que seria um exemplo de transmídia no quesito narrativa.

 

Mas o melhor de toda essa discussão é que o Transmídia imita a vida cotidiana, e pode ser utilizado até mesmo para fins educativos – um ponto importantíssimo tanto para os profissionais da área (professores, diretores de escola) quanto para os produtores de conteúdo. “As possibilidades são infinitas”, diz Bianka Saccoman. Uma vez que as plataformas utilizam uma vasta gama de recursos, o que se ganharia em todos os aspectos (financeiros, educativos, de compartilhamento de informação e cultura, de acesso à tecnologia e a um melhor aprendizado) não pode ser ignorado. Ou seja, se souber ser usado da melhor maneira possível, o Transmídia pode modificar muitas das coisas que vemos erradas por aí. “Veja o impacto que pode ter na educação, no acesso a ela e à cultura”, diz Nakamura. Essa é uma abertura que esse pessoal aqui, sincronizado, não vai deixar escapar por nada deste mundo.

 

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